Neymar Futebol Clube - Gazeta Esportiva
Rodrigo Matuck
Santos
03/05/2025 05:00:57
 

O retorno de Neymar ao Brasil após 12 anos agitou a cidade de Santos. A presença do astro mexeu com os santistas e está transformando a rotina do Núcleo Jabaquara, entidade que ajuda alunos de escolas públicas a desenvolver a arte e o esporte de forma gratuita. A escola divide parede com o CT Rei Pelé e viu o clima mudar desde a chegada do novo vizinho.

A euforia é nítida. Os garotos, de 6 a 12 anos, descem do ônibus já procurando pelo meia-atacante. Os orientadores precisam praticamente empurrá-los para dentro, pois, se fosse pelos pequenos, passariam o dia do lado de fora para esperar por um simples aceno do ídolo.

“Eles ficam na expectativa de que, a qualquer momento, o Neymar chegue. Acho que é por estarmos muito próximos. E como fazem um translado de ônibus, sempre chegam falando que viram alguma coisa. Acham que, por estar do lado, é mais fácil de ver. Criam uma expectativa”, contou a diretora pedagógica Viviane Simone durante visita da Gazeta Esportiva ao Núcleo Jabaquara.

Quadra de esportes do Núcleo Jabaquara e, ao fundo, prédio do CT Rei Pelé (Foto: Rodrigo Matuck/Gazeta Press)

 

Na parte de dentro, Neymar segue sendo o assunto mais comentado, ainda mais quando passa um helicóptero na região. As crianças sabem que o jogador de 33 anos costuma usar o veículo para se locomover e, imediatamente, param tudo o que estão fazendo para olhar para o céu.

“As crianças ouvem barulho de helicóptero e perguntam se o Neymar está pousando para vir ao Núcleo”, relatou Viviane.

E não são apenas os jovens que estão esperançosos de ver o astro de perto. Aos 30 anos, Gabriela não esconde a emoção e o orgulho de trabalhar ao lado do ídolo. A educadora de atletismo é torcedora fanática do Santos e marca presença em quase todos os compromissos do clube na Vila Belmiro.

“Tenho fé que um dia ele vai aparecer. Minha camisa do Santos não sai da mochila. Eu também encho a boca para falar que eu trabalho ao lado do Santos. Já encontrei o Guilherme, o Pituca e o Brazão”, disse.

Gabriela é educadora de atletismo no Núcleo Jabaquara (Foto: Rodrigo Matuck/Gazeta Press)

A Gazeta Esportiva tentou promover o encontro de Neymar com os jovens do Núcleo Jabaquara. A assessoria de imprensa do Santos, no entanto, preferiu não expor o meia-atacante, por precaução.

Mesmo sem a presença in loco — pelo menos por enquanto —, apenas o fato de ser vizinho do craque já tem animado e incentivado bastante as crianças. Os funcionários notam uma mudança de postura e um desejo maior de praticar o futebol.

Guilherme é educador de jogos, no período da tarde. Ele tem a responsabilidade de apresentar uma gama maior de modalidades, além das já conhecidas pelos alunos.

O profissional de 35 anos está na casa desde 2022 e sentiu uma diferença de clima de 2024, quando o Santos estava na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro, para 2025, com a contratação de Neymar. Até mesmo os torcedores de outros clubes, como Corinthians e Palmeiras, deixaram se levar pela empolgação.

“As crianças vão na onda. Elas também estavam mais para baixo na Série B. Os santistas não falavam nada, não queriam falar de futebol. Depois, veio o efeito Neymar. Todo mundo conversando, com orgulho de falar que é santista”, contou.

“E as crianças que não são santistas perguntam: ‘Eu posso gostar do Neymar sendo corintiano?’. E eu falo que sim, claro. Ele é Seleção, o cara do hexa. É o Neymar Futebol Clube, não tem como fugir”, acrescentou.

Muitos, inclusive, estão surfando o momento para se dedicar mais ao futebol e, quem sabe, também virar um jogador. A proximidade com o craque está plantando uma semente nas crianças. Em meio a este cenário, os educadores aproveitam para tornar os jovens mais disciplinados.

“Eu acho que incentiva. Esse ambiente próximo ao CT fica mais festivo. Elas ficam mais empolgadas. O Neymar é um cara esportista. Então, as crianças querem fazer, começam a falar que também querem ser jogadores. Aí começamos a plantar a sementinha, explicando que jogador tem que treinar, participar das atividades, comer direito, respeitar os professores… Aproveitamos essa animação e já orientamos eles para o caminho correto”, relatou.

Guilherme traz para os alunos uma experiência de dar inveja. Em 2024, ele passou uma semana acompanhado de perto o trabalho da comissão técnica de Orlando Ribeiro, então treinador do sub-20 do Santos, no CT Rei Pelé.

“Participei um pouco da preparação física dos Meninos da Vila. Foi muito bacana. Conseguimos trazer um pouquinho da realidade deles, adaptando de uma forma lúdica para fazer com eles aqui. As crianças ficaram perguntando como é o CT, pediram para levar elas lá também. Eles querem muito ir lá”, relembrou.

Guilherme é educador do Núcleo Jabaquara desde 2022 (Foto: Rodrigo Matuck/Gazeta Press)

 

Gabriela, por sua vez, trabalha no período da manhã no Núcleo Jabaquara e também vem percebendo uma mudança de comportamento nos alunos desde o retorno do camisa 10. As meninas, aliás, estão mostrando mais interesse em praticar futebol e até querem repetir os lances de habilidade do meia-atacante.

“É surreal. As crianças têm o interesse, inclusive as meninas. Elas pedem para jogar, assistem ao Neymar na TV e pedem para a gente fazer igual aqui no Núcleo. Mudou muito. As crianças já chegam eufóricas. Em dia de treino, elas já começam a falar no ônibus se o Neymar está aqui. Uma aluna chegou a me perguntar se o Cristiano Ronaldo ia estar aqui (risos). Todo dia alguém pergunta e quer ver o Neymar”, declarou.

Desde 2022, a escola contou com a presença de apenas um jogador do futebol profissional. O atacante Ângelo, que atualmente defende o Al-Nassr, da Arábia Saudita, visitou as crianças e compartilhou a sua história. As Sereias da Vila também participaram de uma atividade no local.

“Planta uma semente. A experiência com o Ângelo foi muito bacana. Ele contou a trajetória de vida dele, que não foi nada fácil. Isso torna um pouco real. A maioria das crianças que moram aqui no entorno do CT crescem com essa expectativa de ser jogadores de futebol. Os meninos comentaram com o educador de esporte que o Neymar comprou o Santos e está melhorando a estrutura. É a questão do sonho. Há essa expectativa”, relatou Viviane.

“As Sereias da Vila também vieram aqui. Foi um momento muito legal. Fizemos um estudo da cultura do Carnaval. Muitas meninas eram de outro estado e trouxeram a cultura do território delas, jogaram bola, brincaram com eles, falaram, dançaram. Foi muito bacana. Os mascotes também vieram. E teve uma vez que o Santos, com a equipe de nutrição, cedeu para as nossas crianças o kit de nutrição que os jogadores recebem”, ampliou.

Hoje em dia, o Núcleo Jabaquara não tem qualquer interação com o Santos. Viviane não esconde a sua decepção, especialmente pela proximidade, porém tem a expectativa de que esse cenário mude em breve.

“Tivemos alguns momentos de parceria com o Santos, logo que começamos aqui, em 2021. Mas parou. Não sei se pela quantidade de crianças que temos. Tivemos algumas ações que poderíamos retomar. Pensamos em falar com eles. Temos uma boa relação, da nossa diretoria com o clube”, comentou Viviane.

“Vamos tentar estreitar mais. O Marcelo Teixeira também é muito envolvido nessas questões sociais. Esperamos que, com essa diretoria, possamos estreitar essa relação. É muito saudável para essas crianças”, completou.

A esperança, aliás, é que Neymar possa ajudar neste sentido. O meia-atacante do Peixe mantém um projeto social, denominado Instituto Projeto Neymar Jr.

O órgão, localizado na Praia Grande (SP), tem por objetivo ampliar as oportunidades de crianças, adolescentes e suas famílias, que vivem em situação de vulnerabilidade social, por meio da educação, cultura, esporte e saúde. Ao todo, são mais de 10 mil vidas impactadas.

Fachada do Núcleo Jabaquara. Muro cinza, da esquerda, já é o CT Rei Pelé (Foto: Rodrigo Matuck/Gazeta Press)

 

“Pelo fato do Neymar ser da cidade e muito comprometido com as crianças e questões sociais, pensamos que isso pode tornar possível nossa visita ao CT. Essas perspectivas ainda são muito pequenas. Mas, na cabeça das crianças, ele pode vir visitá-las a qualquer dia, por ser vizinho e estar muito próximo”, pontuou a diretora de 46 anos.

O Núcleo Jabaquara, localizado na Avenida Rangel Pestana, 395, em Santos, proporciona uma jornada ampliada para crianças matriculadas em uma escola regular do município. São 600 vagas, atendendo as UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas) Rubens Lara e Therezinha de Jesus. São 300 alunos de manhã e mais 300 à tarde.

Por lá, os jovens desenvolvem habilidades dentro de eixos, que são esporte e movimento, orientação pedagógica e artes. Além dos esportes tradicionais, como futebol, basquete e vôlei, por exemplo, há outras oficinas, como de taekwondo, judô, capoeira, artes, dança, movimento e raciocínio lógico.

“Impacta muito na vida delas. Quando falamos de esporte, estamos falando de rotina, disciplina, regras, entender o corpo e os seus limites. Isso contribui, inclusive, no desenvolvimento de outras áreas. Através do esporte, você trabalha a questão da parte do movimento, motora, lateralidade… Isso vai contribuindo nas outras oficinas, na escola e na família também”, disse Viviane.

“Eles começam a despertar interesses em outras áreas. Aqui saem alunos que vão jogar em clubes. Tivemos dois alunos que já foram para clubes profissionais. Alguns ingressaram em oficinas de lutas e foram para academia depois. É um despertar para eles”, completou.

O local não cobra matrícula e conta com a ajuda da prefeitura de Santos e da ASPEM (Associação de Promoção e Assistência Social Estrela do Mar) para atender as crianças. Além disso, a diretoria busca parcerias para custear outros projetos.

“Todos os matriculados são atendidos de forma gratuita, não há custo algum para essas famílias. Há uma parcela do termo de fomento que é destinado da prefeitura para a execução deste serviço. Pagam-se os funcionários e estrutura. E também temos parcerias, com instituições e clubes de serviço, por exemplo. Buscamos essas parcerias para complementar as atividades que são desenvolvidas aqui no nosso espaço”, explicou a diretora pedagógica.

Agora, portanto, ir ao Núcleo Jabaquara também virou status. Apesar de não verem o ídolo de perto, estar minimamente perto dele já significa muito para as crianças, especialmente como fonte de inspiração para, quem sabe, também ser uma referência para as próximas gerações.

“O gás deles é esse. Virou status. ‘Eu estudo do lado do Neymar’. Todo dia no ônibus tem essa pauta: ‘Sabia que eu já vi o Neymar? Sabia que eu já vi o helicóptero do Neymar?’”, finalizou Gabriela, com a camisa do Santos na mochila, à espera do sonhado encontro com o ídolo.

 

 

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