Palmeiras e Boca Juniors resolvem a vida na Libertadores nesta quinta-feira (5) às 21h30 (de Brasília). Pela partida de volta das semifinais da competição continental, as duas equipes se enfrentam no Allianz Parque — e o lar palestrino, graças ao goleiro Sergio Romero, ganhou um inédito protagonismo.
“A única coisa que me preocupa no jogo, mais até do que jogar como visitante, é o gramado sintético que tem no estádio do Palmeiras”, afirmou o arqueiro xeneize, no último dia 7 de setembro. Na zona mista, após o duelo de ida na Bombonera — que terminou empatado em 0 a 0 —, Romero voltou a criticar o Allianz.
“Me preocupa simplesmente que é sintético, não é natural. É um pouco difícil que essa altura da vida tenhamos que falar de um clube de futebol que tenha gramado sintético. A verdade é que a Conmebol e a Fifa deveriam dizer que ou é híbrido ou 100% natural para o futebol, porque gramado sintético é hóquei”, completou.
As preocupações e críticas do goleiro existem razões de ser? Para entender isso, a reportagem da Gazeta Esportiva fez uma entrevista exclusiva com Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass — empresa responsável pela manutenção do gramado sintético do Allianz Parque.
Gazeta Esportiva: O goleiro do Boca Juniors, Romero, deu uma entrevista citando uma preocupação com a grama do lar palestrino. Nessa mesma entrevista, ele citou a grama do Heracles Almelo, time da Holanda como uma “grama espetacular”. Como o gramado do Heracles se compara ao do Allianz Parque?
Alessandro Oliveira: Não tem nem como comparar, é a mesma grama, o mesmo produto. Quando me reuni com o Alexandre Mattos, com a comitiva do Palmeiras e da WTorre, a referência de estádio que nós utilizamos para fazer o campo do Allianz Parque foi do Heracles (Almelo). E todo mundo adorou, foi unânime. Na época a gente conseguiu falar com um brasileiro que jogou lá e elogiou muito o gramado. O Mattos também gostou demais. E aí nós tomamos a decisão, mas a grama é a mesma, o sistema é o mesmo.
Gazeta Esportiva: O sistema é exatamente o mesmo? O goleiro pode ficar despreocupado, então?
Alessandro Oliveira: O goleiro não vai sentir diferença alguma, ele vai ficar bem à vontade quanto a isso. A preocupação dele não faz sentido, porque a grama é idêntica a do Heracles. E a gente não tem tido esse tipo de reclamação. Estive esses dias com o Weverton, do Palmeiras, e ele elogiou muito, disse que está muito satisfeito com a grama.
Gazeta Esportiva: Em outro ponto da entrevista, Romero afirma que tem medo de campo em que os joelhos e a cintura doem. Isso é uma possibilidade no gramado do Allianz Parque?
Alessandro Oliveira: O bom disso tudo, até para tranquilizar o goleiro, é que desde 2020, quando instalamos, o departamento científico do Palmeiras informou que não houve nenhuma lesão por conta do gramado. Todos estão muito satisfeitos. É um sistema muito diferenciado, porque além de ter essa performance semelhante ao gramado natural, precisa suportar shows e eventos, que acontecem de uma forma muito contínua no Allianz Parque. Então, é um sistema realmente bem diferenciado que existe aí em poucos lugares no mundo. Tem no estádio do Heracles, no Allianz e talvez em algum outro lugar que eu não me recordo. Mas são muito poucos, até por causa do custo, que é muito alto. E aí acontece de alguns estádios optarem por um gramado mais barato, a gente já viu isso aqui no Brasil, e pegam um sistema que não tem a mesma qualidade do Allianz Parque. Mesmo assim, o sistema é homologado, mas a diferença de qualidade é brutal quando comparado com a grama natural. Isso também é dito pelo departamento de futebol do Palmeiras.
Gazeta Esportiva: Há o risco de ‘desvantagem esportiva’ ao Boca Juniors por conta do gramado sintético?
Alessandro Oliveira: Eu não vejo um risco do Boca Juniors sofrer uma desvantagem por conta do gramado. Se o time estiver preparado fisicamente para jogar um futebol que a bola role de verdade, sem que ela fique parada, não vai sofrer nenhuma alteração, pelo contrário, é aí que aparece os grandes gols, os grandes lances. Então eu diria que o Boca não vai encontrar desvantagem, não. A diferença é que o departamento científico do Palmeiras é fabuloso, então eles estão preparados para um jogo de alta performance, onde a bola vai rolar do primeiro aos 45 minutos do segundo tempo da mesma forma.
Gazeta Esportiva: Na mesma entrevista, Romero diz que o gramado do ADO Den Haag, da Holanda, também era sintético – mas não tinha a mesma qualidade que o do Heracles, por exemplo. A Fifa não exige um teste de padronização para a instalação do gramado sintético? Por que o goleiro teve essa sensação?
Alessandro Oliveira: Realmente, a Fifa testa, mas os sistemas são diferentes. O sistema do Allianz Parque não tem nada parecido no Brasil e nem na América Latina. Ele se assemelha muito ao gramado natural, que é o que a gente busca. A gente quer sempre trazer um gramado sintético que tenha a mesma percepção, mesmo quique de bola da grama natural. Mas a Fifa tem os parâmetros dela. Nesses parâmetros, vocês tem campos homologados que são diferentes. Por mais que sejam homologados, às vezes eles não se assemelham tanto ao gramado natural. E os nossos parâmetros são sempre muito semelhantes ao do gramado natural. A gente vê no Brasil alguns sistemas que são homologados pela Fifa, mas que a bola fica muito mais viva, o quique não é igual do gramado natural, mas está dentro de um padrão que a Fifa considera ok.